Relatório sobre o Mundo do Trabalho
A disparidade gerada pela desigualdade de renda é enorme e está crescendo, diz OIT
Apesar de o forte crescimento da economia mundial ter produzido milhões de empregos desde o começo dos anos 90, a desigualdade de renda aumentou de maneira dramática na maioria das regiões do mundo e é provável que continue crescendo como consequência da atual crise financeira, de acordo com um novo relatório publicado em 16 de outubro pelo centro de pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O novo estudo do Instituto de Estudos Laborais da OIT, intitulado Relatório sobre o trabalho no mundo 2008: desigualdade de renda na era das finanças globais */, assinala, além disso, que uma parte importante dos custos da crise financeira e econômica recairá sobre centenas de milhões de pessoas que não receberam os benefícios do crescimento ocorrido nos últimos anos.
“O relatório mostra de maneira clara que a diferença entre famílias ricas e pobres aumentou desde o começo dos anos 90”, disse Raymond Torres, Diretor do Instituto e responsável pelo estudo. “Isto reflete o impacto da globalização financeira e a escassa habilidade das políticas domésticas para melhorar os rendimentos da classe média e dos grupos de baixa renda. A atual crise financeira piorará a situação a menos que se adotem reformas estruturais de longo prazo”.
O relatório assinadala que, embora certo grau de desigualdade de rendimentos contribua para premiar o empenho no trabalho, o talento ou a inovação, o mesmo pode resultar contraproducente e prejudicial para a maioria das economia quando é muito grande. “Quando o aumento na desigualdade de renda é excessivo, representa um perigo para o tecido social assim como para a eficiência econômica”.
O relatório é o estudo mais completo sobre a desigualdade de renda em nível mundial realizado até o momento pelo Instituto. O estudo examina o salário e o crescimento em mais de 70 países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Além disso, apela no sentido de que sejam adotadas medidas de longo prazo para avançar em direção a uma economia mais equilibrada, incluindo a promoção do Programa de Trabalho Decente da OIT, que vincula as políticas econômicas, laborais e sociais, e que permitiria impulsionar o emprego e melhorar a renda e sua distribuição.
O relatório diz que o emprego mundial aumentou em 30 por cento entre o início dos anos 1990 e 2007, mas acrescenta que também ampliou-se a disparidade de renda entre famílias ricas e pobres. E mais: comparado com períodos anteriores de expansão, os trabalhadores receberam uma cota menor dos frutos do crescimento econômico, uma vez que a participação dos salários na renda nacional diminuiu na grande maioria dos países para os quais se dispõe de dados.
“A atual desaceleração da economia mundial afeta de maneira desproporcional os grupos de baixa renda”, diz o relatório. “Isto ocorre depois de uma longa fase de expansão na qual a desigualdade de renda já estava aumentando na maioria dos países”.
Entre outras conclusões, o relatório assinala que:
• O crescimento do emprego ocorreu ao mesmo tempo em que a redistribuição de renda afastou-se do trabalho. Em 51 dos 73 países para os quais existem dados disponíveis, a participação dos salários como parte do total da renda diminuiu nas duas últimas décadas. A maior diminuição foi registrada na América Latina e no Caribe ( -13 pontos percentuais), seguida da Ásia e Pacífico ( -10 pontos percentuais) e das Economias Avançadas ( – 9 pontos percentuais).
• Em países com inovação financeira sem regulamentação, os trabalhadores e suas famílias se endividaram cada vez mais para poder enfrentar os investimentos imobiliários e o consumo. Frente a uma situação de salários estagnados, esta foi a solução chave para sustentar a demanda das famílias. No entanto, a crise pôs em evidência os limites deste modelo de crescimento.
• Entre 1990 e 2005, aproximadamente dois terços dos países tiveram um aumento da desigualdade de renda. Ou seja, a renda das famílias mais ricas aumentou em relação à das mais pobres.
• Além disso, durante o mesmo período, a disparidade entre os 10 por cento de assalariados com renda mais alta e os 10 por cento com a renda mais baixa aumentou em 70 por cento nos países para os quais existe informação disponível.
• Por isso, está aumentando a disparidade de renda – a um ritmo cada vez maior – entre os altos executivos e o empregado médio. Em 2007, por exemplo, os diretores executivos (CEO) das 15 maiores empresas dos Estados Unidos receberam salários que seram mais de 520 vezes superiores aos do do trabalhador médio, comparado com uma diferença de 360 vezes em 2003. Situações similares – ainda que com salários mais baixos – podem ser observadas em outros países como Alemanha, Áustria, Hong Kong (China), Países Baixos e África do Sul.
Segundo o relatório, os prognósticos assinalam que a desigualdade de renda continuará aumentando, e acrescenta que se trata de um problema que pode ser associado com taxas de delinquência mais altas, menor expectativa de vida e, no caso dos países pobres, má nutrição e um aumento na probabilidade de que as crianças se vejam obrigadas a abandonar a escola para trabalhar.
“Na atualidade, em muitos países existe uma percepção generalizada de que a globalização não atua em benefício da maioria da população”, diz o relatório. “Portanto, o desafio político é garantir incentivos apropriados para trabalhar, aprender e mudar e, ao mesmo tempo, evitar desigualdades de renda socialmente daninhas e economicamente ineficientes”.
* Informe sobre el trabajo en el mundo 2008: Desigualdades de renta en la era de la finanza global (World of Work Report 2008: Income inequalities in the age of financial globalization) (somente em inglês), ISBN 978-92-9014-868-5. Instituto Internacional de Estudios Laborales. Organização Internacional do Trabalho, Genebra, 2008. Mais informações em www.oitbrasil.org.br