Ação do SUS previne acidentes de trabalho
O Sistema Único de Saúde (SUS) pode interferir no ambiente e nos processos de trabalho das empresas quando acontecem acidentes com trabalhadores. Isso proporciona a correção das irregularidades, a fim de evitar outros sinistros no mesmo local e nas mesmas circunstâncias. A investigação dos acidentes e a procura pela prevenção têm obtido bons resultados, segundo a pesquisa “Investigação de Acidente de Trabalho: Intervenção Individual ou Coletiva feita pelo SUS?”, conduzida pelo tecnólogo em saneamento José Luiz Nishihara Pinto, do Centro Metropolitano de Apoio à Saúde do Trabalhador (CEMAST), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Nishihara explica que a secretaria faz, desde 2002, a investigação de mortes, mutilações e aparecimento de doenças quando há suspeitas de que ocorreram no ambiente de trabalho. Uma equipe vai até os locais onde os trabalhadores atuavam para avaliar os riscos e as causas diretas do acidente. “Esse trabalho elimina as causas para que não haja reincidência. Um caso é a porta de entrada e se estende para a empresa toda”, afirma.
Um dos exemplos dessa ação é o caso de um óbito em uma empresa de mineração no município de Quitandinha. Foram realizados inspeções no local, avaliação dos documentos pertinentes à saúde e segurança dos trabalhadores, levantamento dos riscos ambientais, análise do laudo cadavérico do Instituto Médico-Legal (IML) e do laudo de exame de local de morte do Instituto de Criminalística, a discussão técnica dos dados obtidos e a elaboração de relatórios e de um Termo de Ajuste de Compromisso.
Com base nesses dados, o SUS intervém e direciona a empresa a investir nas áreas necessárias para prevenção de acidentes. “Fazemos um acordo de compromisso e como o investimento será direcionado. Na maior parte dos casos, sentamos com a direção da empresa e demonstramos qual é o problema. Ela se sensibiliza e fazemos a parceria. Não adianta apenas multá-la pelo acidente. A maioria das empresas, entre 95% e 98%, fez os investimentos indicados para a prevenção”, comenta Nishihara. No caso de Quitandinha, a empresa cumpriu o termo de ajuste em sua totalidade.
A pesquisa concluiu que a intervenção do SUS transforma uma ação de caráter individual em uma ação preventiva que contemple o conjunto dos trabalhadores. “Não adianta o SUS apenas combater os sintomas e as conseqüências desses acidentes. Precisa agir além disso”, salienta.
Nishihara destaca as máquinas e seus funcionamentos como os principais motivos para mortes e mutilações. A doença que mais preocupa a Sesa é a silicose. Os trabalhadores adoecem quando respiram uma poeira mineral que causa a fibrose pulmonar. Depois de anos de exposição, a pessoa morre por asfixia, pois não consegue realizar a troca de gases da forma correta. Entre os minérios que podem causar o problema está a sílica. O jateamento com este produto é proibido no Brasil. As lesões por esforço repetitivo (LER) e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) são doenças que também preocupam a secretaria. A investigação do Centro Metropolitano de Apoio à Saúde do Trabalhador acontece em 45 municípios paranaenses e há assistência para as outras cidades.
Joyce Carvalho